Indivíduos que, em sua
maioria, já receberam a promoção à categoria de adultos, agora rumam para os
seus trabalhos vestidos de seriedade, deixando para trás o saboroso gosto dos
dias sinceros de folia. Dias onde a brincadeira tornou-se o cotidiano.
Com um empréstimo de
período curto, os ditos homens feitos tomaram de seus filhos, netos e sobrinhos
o direito de brincar. Viveram num verdadeiro parque de possibilidades, contos e
histórias de super-heróis e vilões, onde o que menos havia eram desavenças entre
os personagens.
Os mesmos adultos que passaram
o ano promovendo o amadurecimento de seus filhos, fecharam temporariamente os olhos
para suas próprias regras e mergulharam nos atos infantis, vivenciando, muitas
vezes, o publicamente incorreto para maiores de 18 – se bem que depois dos 12
anos estes atos já são considerados ‘mico’.
A porção adulta tirou
férias e frases como “não faça careta para as pessoas” ou “não sente no chão
com sua roupa limpinha” passaram a ser recriminadas pelos próprios pais, dando
aos dias de folia um aspecto de faixa etária livre para a expressão lúdica.
No carnaval, mais velhos e
mais novos se confundem no meio das fantasias e concedem para si a licença para
a zombaria. Naquela fenda temporal, de intervalo entre as obrigações, é
permitido mexer, tirar sarro, rir do outro e com o outro, terminando muitas
vezes com corpos esparramados no chão, em sinal do cansaço das horas de divertimento.
E assim, em tom passado, nos
despedimos na quarta-feira de cinzas dos adultos que viveram meninos e meninas ao
vestirem trajes super poderosos. Despedimo-nos dos adolescentes temporários que
contavam a quantidade de bocas beijadas, ou mesmo, que perderam a conta da
quantidade de bebidas tomadas. Despedimo-nos dos infratores – mas estes, que
independente da idade, merecem reprovação – que mancharam o carnaval com o mau
cheiro de urina e de atos de vandalismo.
E como crianças
contrariadas, que foram retiradas à força de suas brincadeiras, despedimo-nos
do carnaval de cara fechada, emburrados pela troca involuntária da diversão pela
hora de dormir ou ir para a escola.
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